Recebemos o Prof. Dr. Vitor Chaves de Souza, da Universidade Metodista de São Paulo, para ministrar a palestra de introdução à Filosofia da Religião. Nessa palestra, ele teve a oportunidade de apresentar conceitos fundamentais da Filosofia da Religião, com destaque para alguns elementos do pensamento do filósofo Friedrich Nietzsche.
De fato, esse é um tema muito pertinente na atualidade, uma vez que o fenômeno religioso está muito presente na cultura e na sociedade. Afinal de contas, a busca de um sentido existencial diante da morte, da impermanência e da finitude é própria da condição humana. Dessa busca, surge uma pluralidade de interpretações a respeito da realidade divina inefável e absoluta.
Particularmente, a filosofia da religião estuda a dimensão espiritual do homem a partir de uma perspectiva filosófica; entretanto, a preocupação dessa área de conhecimento não se pauta pelo reconhecimento explícito de uma realidade divina. Embora a religião seja de fato um espaço autêntico para se procurar e buscar a realidade última de nossas existências, ainda assim, o palestrante nos alerta que as narrativas religiosas sobre a origem do universo não deveriam ser lidas com a pretensão científica do racionalismo positivista e empirista, nem tampouco com uma postura fundamentalista. Ele acrescenta que o propósito da religião, assim como de outras áreas da experiência humana é o de superar os limites da função cognitiva humana. E, de fato, a questão a respeito da essência da religião, diante das limitações da percepção humana da existência, é impossível de ser respondida de forma definitiva.
“Fé e razão [na dinâmica da religião] não se excluem na medida em que os mitos são interpretados – e reconhecidos – por sua originalidade na abertura de um tempo habitável. Ambas pertencem à esfera humana.”
Pode-se dizer que a questão da religião acompanha a história da civilização ocidental. O palestrante apresenta resumidamente a trajetória de desenvolvimento do pensamento religioso e destaca que a questão da existência de Deus se torna mais forte na Idade Média, quando surgem discussões sobre o valor das provas de Deus e sobre a coerência lógica dos atributos divinos. Mais adiante, no século XIX, surgem as reflexões amparadas pelo cientificismo, com foco no conhecimento lógico, que inverte a relação entre a fé a razão.
A filosofia da religião reconhece os limites da razão humana, assim como reconhece o conhecimento de algo que a ultrapassa, mas não objetivável. Nas palavras do professor Victor, “fé e razão [na dinâmica da religião] não se excluem na medida em que os mitos são interpretados – e reconhecidos – por sua originalidade na abertura de um tempo habitável. Ambas pertencem à esfera humana. A vida estritamente crível enfraquece a razão; a vida exclusivamente racional elimina as revelações do ser. O desafio de uma vida assumida e voltada para a ação ética transcende a indecisão do desconhecido e alcança a possibilidade de uma existência conhecida por intermédio das narrativas fundadoras do mundo”.
A filosofia surge então como um modo de reformular a questão da essência divina, pois propõe um questionamento autêntico. Então, o palestrante apresenta um pouco da contribuição filosófica de Friedrich Nietzsche, que figura como um pensador que se opunha ao estatuto da razão tal como uma instituição de autoridade e, por esse motivo, a força do original do seu pensamento é reconhecer um impulso que antecede a razão, que nos coloca no mundo e nos devolve ao mundo. Em Nietzsche há o reconhecimento de uma batalha de forças internas, que colocam o ser humano em contato com o mundo real e que o impelem a um compromisso ético em relação a vida. O ‘amor fatio’ em Nietzsche é o amor ao que é feito, a partir daquilo que nos é possível; afinal, o que importa é o que fazemos da vida e não o que ela nos traz.
Texto: Michel Pena
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