O termo udāna significa declarações ou dizeres que contenham sentido significativo. O Udānavarga é uma obra que apresenta uma antologia de declarações atribuídas ao Buda.
Escrito originalmente em sânscrito, em trinta e três capítulos ou vargas que apresentam mais de mil versos, este texto é normalmente associado à escola Sarvāstivāda. Pode ser dividido em quatro livros, com capítulos de tamanho similar em termo dos números de versos: o primeiro livro com doze capítulos, e duzentos e sessenta versos; o segundo conta também com doze capítulos, mas duzentos e quarenta e nove versos; o terceiro com seis capítulos tem duzentos e quarenta e oito versos; e, por fim, o quarto livro, com apenas três capítulos, e duzentos e trinta e dois versos. Abordando temas centrais para uma introdução ao estudo da moral budista, os assuntos variam desde a reflexão sobre morte e impermanência até a natureza da ética e da moral, a fé, a felicidade, como deve se portar o renunciante.
Esta obra possui similaridade com outras duas, com estrutura e versos em comum – embora também tenham diferenças importantes. Essas duas obras são: o Dharmapada, em Prakrit; e em Pāli, o Dhammapada. O Dharmapada em prakrit é conhecido como o Dharmapada Gandhāri.
Há um núcleo de trezentos e trinta versos que aparecem nas três obras, com dezesseis capítulos em comum, sem que sejam exatamente iguais. Alguns títulos dos capítulos também são similares, e são dados em geral de acordo com a temática – como aqueles que falam sobre a felicidade ou sobre a fé; ou de acordo com a forma – em menor número, como o capítulo “Sobre os opostos” (Yamaka) ou “Sobre vários assuntos” (Prakīrnaka). Apresentam algumas variações nos títulos também. Por exemplo: o capítulo 01 se chama Anitya no Udānavarga, enquanto no Dhammapada chama-se Jarā. Outra diferença importante é o fato de que o Udānavarga é mais extenso, com mais do que o dobro dos versos das outras duas.
Organizado em uma variação do sânscrito proveniente de Kashmere, presente a partir do século I d.C, o Udānavarga de Dharmatrāta conta com traduções para chinês e tibetano. A data da primeira tradução seria entre 221-223 d.C. A versão tibetana ocorreu por volta do ano 900 d.C, por Vidyaprabhākara. Foi incluído na coleção tripitaka tibetana Kangyur e Tangyur, e considerado um dos textos básicos da escola Kadam.
Para entender a origem dos versos, cabe observar um aspecto na forma como o Buda ensinava, que ficou registrado nos textos dos sermões. Ao final das explicações, ele repetia o que havia falado na forma de versos. O objetivo seria transmitir aos alunos em poucas linhas a essência do ensinamento. Há exemplos também de alunos do Buda ensinando por meio de versos, como por exemplo o momento em que Śariputra ensina Asvajit. Por isso, pode-se indicar que seria uma consequência da importância do uso dos versos que se sistematizasse obras próprias com eles, de maneira a preservar os dizeres instrutivos do Buda. Em resumo, as explicações em versos desempenharam importante papel na História da Tradição Budista Indiana.
Em 2019, o fundador da associação BUDA, Plínio Tsai, que é também professor e diretor do ITCB, publicou uma tradução do livro Udānavarga de Dharmatrāta. Os versos são lidos diariamente pelas monjas e monges que fazem parte do monastério.
A leitura é disponibilizada para todos ouvirem no grupo de Whatsapp Monastério Buda. Se desejar entrar neste grupo para ouvir as leituras, basta clicar aqui. Se deseja saber mais sobre a tradução, acesse nossa aba Publicações. E para adquirir o livro, acesse a Estante Virtual.
Fontes:
BROUGH, John. The Gāndhārī Dharmapada. Londres: Oxford University Press, 1962.
BUSWELL; LOPEZ. Princeton Dictionary of Buddhism. Oxford: Princeton University, 2014.
ROCKHILL, W. Woodville. Udānavarga: a collection of verses from the Buddhist Canon compiled by Dharmatrāta. Londres: Trübner & Co. Ludgate Hill, 1883.